SOBRE O BLOGUEIRO

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Antonina, Litoral do Paraná, Palestine
Petroleiro aposentado e petista no exílio, usuário dos óculos de pangloss, da gloriosa pomada belladona, da emulsão scott e das pílulas do doutor ross, considero o suflê de chuchu apenas vã tentativa de assar o ar e, erguido em retumbante sucesso físico, descobri que uma batata distraída não passa de um tubérculo desatento. Entre sinos bimbalhantes, pássaros pipilantes, vereadores esotéricos, profetas do passado e áulicos feitos na china, persigo o consenso alegórico e meus dias escorrem em relativo sossego. Comendo minhas goiabinhas regulamentares, busco a tranqüilidade siamesa e quero ser presidente por um dia para assim entender as aflições das camadas menos favorecidas pelas propinas democráticas.

terça-feira, 30 de novembro de 2010

Inveja dos argentinos

Eu visito o Blog da Cidadania todos os dias



Imagine poder discutir o semi monopólio da Globo com o motorista de taxi, com o porteiro do prédio, com a faxineira ou mesmo com um colega de trabalho. Ou ouvir até de empresários que realmente não é aceitável que um único grupo empresarial detenha metade da audiência da televisão aberta e o segundo jornal e a segunda revista semanal de maior tiragem.
De domingo –  quando cheguei a Buenos Aires – até agora, não ouvi uma só pessoa responder que a “Ley de Medios” é um despropósito. A sociedade argentina está convencida de que é preciso democratizar a comunicação. E o que é melhor: as pessoas sabem o que é democratizar a comunicação.
Claro que esse pode ser um fenômeno dos centros urbanos. Contudo, tente, em São Paulo, no Rio, em Belo Horizonte, em Curitiba, em Porto Alegre, em Salvador ou em Recife, entre outros, discutir o oligopólio das comunicações. A quase totalidade das pessoas não lhe dará atenção por mais do que alguns segundos antes de mudar de assunto ou de inventar uma desculpa para interromper a conversa.
Note-se que não me refiro aos politizados – sejam de direita ou de esquerda, que, no Brasil, são raros. Refiro-me a essa maioria que pode conversar por horas sobre futebol ou sobre novelas, mas que não tem paciência de gastar cinco minutos com política.
O Brasil é uma ilha de alienação em meio a uma América Latina significativamente politizada. Venho batendo nesta tecla há muito tempo devido à minha atividade profissional, que me obriga a viajar pela região.
O que estou vendo na Argentina é ainda mais interessante do que vi em países como a Venezuela, por exemplo – país em que o mais humilde cidadão é capaz de discutir a constituição do país e a política partidária.
A grande diferença do Brasil continua sendo a nossa histórica bonomia em relação ao jogo do poder e a nossa aversão a conflitos de qualquer tipo, mesmo quando o conflito é inevitável e necessário.
Ciente da natureza de seu povo, Lula desperdiçou os últimos oito anos no que diz respeito à democratização da comunicação. Apenas no fim de seu segundo mandato é que ousou convocar uma conferência para discutir o assunto. Mas acabou relativizando sua importância quando a mídia começou com o mesmo trololó sobre “censura” que o grupo Clarín, aqui na Argentina, recita para as paredes.
O discurso do PIG argentino sobre supostos ímpetos censores do governo é exatamente o mesmo que o do PIG tupiniquim. Mas neste país é um discurso já quase envergonhado e que está morrendo a cada dia.
O grupo Clarín, a bem da verdade, tem um monopólio ainda maior do que o da Globo – alguma coisa perto de 80% do bolo da comunicação. Mas terá que se desfazer desse império. Será pago condignamente pelo que vender, mas não poderá manter o controle sobre tantas mídias e muito menos conseguirá vender seus meios de comunicação para testas-de-ferro.
Os dois governos Kirchner conseguiram explicar perfeitamente à sociedade os malefícios da concentração de meios de comunicação. A sociedade quer a diversidade de opiniões e de opções. É irreversível.
Enquanto esse sonho dourado dos democratas se materializa por aqui, no Brasil estamos completamente alheios ao que está acontecendo neste país. Deveríamos estar discutindo intensamente o processo em curso na Argentina. Ao menos na blogosfera. Mas a discussão ainda é insipiente. Não estamos avançando nesse debate.
Diga, leitor, uma só proposta concreta para acabar com o oligopólio nas comunicações no Brasil. Nem  um órgão para normatizar as comunicações conseguimos discutir nacionalmente. Globo, Folha, Estadão e Veja conseguiram interditar o debate porque o governo teme meramente tocar no assunto.
E o pior é que temos condições muito melhores para propor essa discussão. Não temos os problemas que têm os argentinos na economia, por exemplo, e o apoio popular ao governo brasileiro é muito maior do que ao governo argentino.
Aliás, nada que seja polêmico nós conseguimos discutir. Os crimes da ditadura, por exemplo. Os criminosos do regime militar argentino estão sendo julgados e até presos. Enquanto isso, os criminosos que torturaram e assassinaram pouco mais do que crianças durante a nossa ditadura zombam de suas vítimas e ainda se dão ao desfrute de fazer ataques a elas.
Os argentinos estão nos goleando sem parar no que diz respeito à democratização real de seu país. Que inveja.

A coisa vai feder!

Aguardem, vem aí o Movimento Escatológico Revolucionário De Antonina, o popular M.E.R.D.A. 
Ninguém perde por esperar! 
Apurem as narinas.
A esquerda escatológica unida jamais será vencida! 

Cagar é bom demais

Homenagem aos blogueiros sujos de diferentes extrações e origens que, como O Ornitorrinco,  pensam com os intestinos e, conscientemente, peidam nos elevadores seletos e perfumados da direitona de nariz empinado.
No YouTube há vídeos afirmando que esta cheirosa, bela e imortal página musical seria do  Tom Zé ou mesmo do Juca Chaves. Não é, até onde sei, de nenhum deles. É uma bela obrada do povo do Língua de Trapo.

segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Todos os dias o povo come veneno

Eu visito o Altamiro Borges todos os dias

Reproduzo artigo de João Pedro Stedile, integrante da coordenação nacional do MST, publicado no sítio da Adital:

O Brasil se transformou desde 2007, no maior consumidor mundial de venenos agrícolas. E na ultima safra as empresas produtoras venderam nada menos do que um bilhão de litros de venenos agrícolas. Isso representa uma media anual de 6 litros por pessoa ou 150 litros por hectare cultivado. Uma vergonha. Um indicador incomparável com a situação de nenhum outro país ou agricultura.

Há um oligopólio de produção por parte de algumas empresas transnacionais que controlam toda a produção e estimulam seu uso, como a Bayer, a Basf, Syngenta, Monsanto, Du Pont, Shell química etc.

O Brasil possui a terceira maior frota mundial de aviões de pulverização agrícola. Somente esse ano foram treinados 716 novos pilotos. E a pulverização aérea é a mais contaminadora e comprometedora para toda a população.

Há diversos produtos sendo usados no Brasil que já estão proibidos nos países de suas matrizes. A ANVISA conseguiu proibir o uso de um determinado veneno agrícola. Mas as empresas ganharam uma liminar no "neutral poder judiciário" brasileiro, que autorizou a retirada durante o prazo de três anos... e quem será o responsável pelas conseqüências do uso durante esses três anos? Na minha opinião é esse Juiz irresponsável que autorizou na verdade as empresas desovarem seus estoques.

Os fazendeiros do agronegócio usam e abusam dos venenos, como única forma que tem de manter sua matriz na base do monocultivo e sem usar mão-de-obra. Um dos venenos mais usados é o secante, que é aplicado no final da safra para matar as próprias plantas e assim eles podem colher com as maquinas num mesmo período. Pois bem esse veneno secante vai para atmosfera e depois retorna com a chuva, democraticamente atingindo toda população inclusive das cidades vizinhas.

O Dr. Vanderley Pignati da Universidade Federal do Mato Grosso tem várias pesquisas comprovando o aumento de aborto e outras conseqüências na população que vive no ambiente dominado pelos venenos da soja.

Diversos pesquisadores do Instituto Nacional do Câncer e da Universidade federal do Ceara já comprovaram o aumento do câncer, na população brasileira, conseqüência do aumento do uso de agrotóxicos.

A ANVISA - responsável pela vigilância sanitária de nosso país -, detectou e destruiu mais de 500 mil litros de venenos adulterados, somente esse ano, produzido por grandes empresas transnacionais. Ou seja, alem de aumentar o uso do veneno, eles falsificavam a fórmula autorizada, para deixar o veneno mais potente, e assim o agricultor se iludir ainda mais.

O Dr. Nascimento Sakano, consultor de saúde, da insuspeita revista Caras, escreveu em sua coluna que ocorrem anualmente ao redor de 20 mil casos de câncer de estomago no Brasil, a maioria conseqüente dos alimentos contaminados, e destes 12 mil vão a óbito.

Tudo isso vem acontecendo todos os dias. E ninguém diz nada. Talvez pelo conluio que existe das grandes empresas com o monopólio dos meios de comunicação. Ao contrário, a propaganda sistemática das empresas fabricantes que tem lucros astronômicos é de que, é impossível produzir sem venenos. Uma grande mentira.

A humanidade se reproduziu ao longo de 10 milhões de anos sem usar venenos. Estamos usando veneno, apenas depois da segunda guerra mundial para cá, como uma adequação das fabricas de bombas químicas agora, para matar os vegetais e animais. Assim, o poder da Monsanto começou fabricando o Napalm e o agente laranja, usado largamente no Vietnam. E agora suas fabricas produzem o glifosato, que mata ervas, pequenos animais, contamina as águas e vai parar no seu estômago.

Esperamos que na próxima legislatura, com parlamentares mais progressistas e com novo governo, nos estados e a nível federal, consigamos pressão social suficiente, para proibir certos venenos, proibir o uso de aviação agrícola, proibir qualquer propaganda de veneno e responsabilizar as empresas por todas as conseqüências no meio ambiente e na saúde da população.

Infâmias merecem sempre minha resposta, ouviu Tutuca?

Eu visito o Blog do Tutuca todos os dias

Tutuquinha, o direitoso sorridente e prenhe de bom senso, decreta que o Paraná está “no segundo time”, na segunda divisão, e que tudo isso é culpa, vejam só, do PT.

Enganadoramente sorridente e simpático, não consegue mais esconder o ódio definitivo que tem da esquerda, do PT e das transformações que estão em curso no Brasil.  

Reproduz asneiras e infâmias escritas por gente que não se identifica, celetistas do grupo midiático, mafioso e xexelento do Paulo Pimentel e quer nos convencer que tais merdas são verdades estabelecidas.

Tutuquinha, verdadeiro, sorridente e simpático como uma nota de 3 reais, ousa dizer que Gilberto Carvalho jamais esteve vinculado às lutas diárias de nosso estado.

Você me causa ânsias de vômito ao falar assim de um companheiro que, ainda antes da fundação do PT, estava em favelas e nas periferias, morando lá, vivendo lá, vinculado diretamente às lutas diárias da nossa gente, do nosso povo.

De mim você fale o que quiser, nos termos que você julgar os mais adequados. Mas, para falar de Gilberto Carvalho, lave sua boca suja e torta com água sanitária. 

Vou repetir: lave sua boca suja e torta. E respeite um lutador do povo brasileiro.

Você vibra com um homem de preto segurando uma arma? Pois vá procurar ajuda, meu amigo

Eu visito VioMundo todos os dias

A tropa de elite e os cucarachas

Por Luiz Carlos Azenha

A “Guerra contra as Drogas” é coisa antiga. Nos Estados Unidos, do tempo de Richard Nixon. Mas foi no governo Reagan que a “Guerra contra as Drogas” realmente começou a ser levada a sério em Washington. Reagan militarizou a interdição do tráfico entre a América do Sul e o território estadunidense. Envolveu até mesmo a Central de Inteligência Americana na parada. Eu, por acaso, era correspondente da TV Manchete nos Estados Unidos.
Portanto, embora tenha acompanhado minha dose de tiroteios no Jacarezinho, quando fui repórter da Globo no Rio de Janeiro, conheço a guerra contra as drogas de muito, muito antes.
Logo que cheguei aos Estados Unidos, aliás, acompanhei como repórter o combate ao que sobrava da Máfia em Nova York. Uma de minhas primeiras reportagens em Manhattan (desembarquei na cidade em 7 de dezembro de 1985, dia do aniversário de minha mãe) foi sobre o assassinato do chefão Paul Castellano, abatido diante da famosa Sparks Stakehouse, um restaurante que servia um belíssimo filé — e que era um dos favoritos do Paulo Francis, então veterano correspondente na cidade.
Cobri o primeiro julgamento de John Gotti, absolvido em um tribunal do Brooklyn da acusação de eliminar Castellano para assumir o “cargo” de chefe dos chefes. Fiz reportagens tanto no Little Italy, onde a Máfia lentamente definhava, quanto em Queens, diante da casa de Gotti. Quando ele ainda não era o todo poderoso, Gotti perdeu um filho perto de casa, atropelado por um vizinho. Uma das acusações contra ele é de que tinha mandado dar um sumiço no atropelador.
Naquela época, quando eu ainda tinha a cabeça pequena e o peito grande, cheguei a bater na porta de ferro do que era tido como o salão de reuniões informais dos mafiosos em Queens (com o Domingos Mascarenhas, cinegrafista da TV Manchete, filmando).
Gotti foi absolvido mais de uma vez das acusações que lhe foram imputadas, pelo trabalho brilhante do advogado Bruce Cutler. Cutler, aliás, esteve no centro de uma polêmica que os Estados Unidos viveram nos anos 80 e que chegou com trinta anos de atraso ao Brasil: até que ponto o advogado pode se envolver na defesa de seu cliente. A promotoria de Nova York, que perseguia febrilmente a condenação de Gotti, pediu o afastamento do advogado alegando que ele tinha se tornado um acessório do crime organizado. Conseguiu. Sem Cutler na defesa, Gotti foi finalmente condenado por liderar a família Gambino (mais tarde morreria de câncer, na cadeia).
Fiz muitas coberturas relativas à chamada “guerra contra as drogas”, dentro e fora dos Estados Unidos.
O que mais me chamou a atenção, à época — e que guardo até hoje, como lição — é que Washington pregava para os outros o que não fazia em casa.
Para os outros e fora dos Estados Unidos, o governo americano pregava a militarização da interdição e do combate às drogas.
Internamente, no entanto, a coisa era diferente.
Nunca vi a Guarda Nacional americana chutando portas atrás de traficantes. Muito menos o Exército.
Em casa, a ênfase era no serviço de inteligência. No trabalho silencioso do FBI.
Tropa de elite, aparentemente, era coisa de cucaracha* (o cartunista Henfil popularizou a palavra usada pelos gringos para definir os hispânicos quando voltou ao Brasil de uma estadia em Nova York e escreveu “O Diário dos Cucarachas”).
Voltarei ao assunto em breve, tratando do general Manuel Noriega e da invasão do Panamá.
* Aliás, essa história de vibrar com homem de preto segurando metralhadora… sei lá.

Tubinho? Que porra é essa, Amigos do Jekiti?

Eu visito os 
Amigos de Jekiti 
todos os dias.
As vezes, 
acho que não deveria.

"Puerra! Tubinho, dona Olga Leite?
Só faltaram Arthur Schunemann e Guili-Guili Galifa he he he he
Edinho "anta de tênis" Araújo"

O ORNITORRINCO pede a palavra para perguntar, estupefacto, quem é Tubinho, quem é Olga Leite, quem é Guili-Guili Galifa e, por deus, quem seria a anta de tênis? Nosso jogo tem sido leal, direto e franco, ora essa. Os Amigos de Jekiti estão terceirizando o combate?

Os acontecimentos no Rio: um outro olhar

Do Blog do Luiz Nassif e de Terra Magazine

Polícia do Rio e Forças Armadas passaram no vestibular do Alemão

–1. Ainda não se sabe se os soldados do Comando Vermelho (CV), — instalados num dos quartéis generais do tráfico de drogas—, conseguiram fugir durante a noite e a madrugada. Ou, apenas, deixaram os seus postos de resistência armada e se esconderam debaixo das camas dos vários barracos.
O certo é que a operação da invasão do morro pelas forças de ordem foi um sucesso.  Passamos no vestibular e que venham as Rocinhas e quejandos.
Os representantes da sociedade, ou melhor, os nossos representantes, agentes da ordem, foram impecáveis. Mais um território recuperado, diante de uma situação de secessão. Com o controle do espaço físico comunitário já se pode falar em liberdade para os cidadãos  e restabelecimento do controle social pelo Estado.
O sub-chefe do tráfico da Vila Cruzeiro, um jovem apelidado de Mister M, se rendeu antes da invasão do Complexo do Alemão para onde fugira. Com isso, mostrou como estava o clima de medo entre a bandidagem.
Quando da anterior  invasão da Vila Cruzeiro, os bandidos saíram em humilhante fuga. E as forças do Estado, para evitar derramamento de sangue e uma imagem negativa do Brasil no exterior, não cometeu a ilegalidade de metralhar ou fuzilar os  soldados do CV. Nesse particular, o presidente Lula deve ter respirado aliviado uma vez que não seria nada fácil, em fim de mandato, sair carimbado como conivente em massacres: em São Paulo e em face do massacre da unidade prisional do Carandiru, o governador Fleury, — que negou autorização e o secretário de segurança pública assumiu haver dado a ordem de invasão, não consegue se livrar da imagem do massacre. Não concorreu à última eleição em face de, anteriormente, não ter logrado se reeleger deputado federal.
A vitória obtida na invasão do Complexo do Alemão, –  no momento estão sendo realizadas “varreduras” para busca de criminosos escondidos, de drogas armazenas e armas deixadas–, dá a certeza de que o governo do Rio pode, com apoio Federal, prosseguir nas implantações das Unidades de Polícia Pacificadoras (UPPs).  O grande desafia será na Rocinha.
Pelos levantamentos, 600 membros da “confederação criminal” formada por delinqüentes das organizações CV e Amigos dos Amigos (ADA) resistiam, no Complexo do Alemão, até pouco antes da invasão. É quase certo que alguns bandidos conseguiram fugir durante a noite e madrugada, quando perceberam a iminência da invasão.
–2. O jornal Folha de S.Paulo, em primeira página, informa sobre um levantamento realizado. Na cidade do Rio de Janeiro o tráfico de drogas “empregaria” 16 mil pessoas e estas venderiam 100 toneladas de drogas por ano.
Diante dessas informações, volto ao tema do post de ontem, ou seja, a “desassociação”.
Como todos sabem, os jovens, –nas comunidades onde o crime organizado detém controles de território e social–, são atraídos pelo poder, lucro e protagonismo na comunidade. São os “soldados” da base da hierarquia.
Ora, as Unidades de Polícia Pacificadoras (UPPs) voltam-se à retomada de espaços físicos (territórios) o controle social. Em síntese, o morador recupera a cidadania, a liberdade ambulatória e as liberdades públicas. Os jovens das facções criminosas, no entanto, migram para outras áreas, na certeza de que continuarão a sobreviver do tráfico de drogas.
Não existe no projeto de UPPs previsão para instituição, por lei, da “desassociação”. Ou seja, a possibilidade de o jovem mudar de lado e ser beneficiado. Tudo condicionado ao ingresso em programas ressocializadores, de educação à legalidade democrática. Uma assistencia para mudar de vida: não estou a propor PAC para os soldados da criminalidade. O certo, é que as cadeias e presídios ficarão abarrotadass desses jovens, caso exitosa a repressão que está em curso.
Na Itália, –quando do combate às Brigadas Vermelhas e outras organizações eversivas–, percebeu-se ( e é contado no livro Le Due Guerre do magistrado Giancarlo Caseli, que é o juiz que combateu o terror e a máfia siciliana) que uma quantidade enorme de jovens, - usados como massa de manobra–, estavam presos e receberiam penas altíssimas. Então, criou-se o instituto jurídico da desassociação: dá para imaginar um jovem de 18 anos condenado à pena de 30 anos de prisão como sairá do cárcere ?
Em tempo: a Itália vivia uma normalidade democrática quando começou o movimento terrorista, cuja principal organização tinha o nome de Brigadas Vermelhos. O presidente era o socialista Sandro Pertini ( foi preso pelos fascistas ao tempo de Mussolini e dividiu a cela com o notável Antonio Gramnsci). O combate ao terrorismo deu-se, como observava o respeitado e saudoso Pertini, dentro da legalidade, sem normas ou cortes de exceção.
Para se desassociar, bastava o interessado enviar ao magistrado uma declaração de que havia deixado a organização criminosa especial a que pertencia. Aí, o jovem era colocado em liberdade e o processo criminal arquivado.
Para o sucesso das UPPs não há outra saída. Volto a afirmar: com o sucesso das operações repressivas e a difusão, pelo Estado, de um programa de desassociação (com emprego ou seguro desemprego) muitos jovens mudariam de lado. Até no meio do embate.
–3. No processo penal brasileiro, (e foi uma luta de 20 anos para se chegar a esse ponto e onde fui taxado de visionário muitas vezes) adotou-se o modelo italiano da “delação premiada” (colaboradores de Justiça).
Instalou-se na legislação o chamado “direito premial”. Com efeito, pode-se criar, também, um prêmio à dessasociação. Não é racional encher as cadeias com um “exército” de jovens, microtraficantes, e que servem à criminalidade organizada pré-mafiosa.
–4. Registro. Na Itália, ainda não se aplicou a desassociação aos casos de Máfia (só delação premiada aos “pentiti”-arrependidos).
Os candidatos à desassociação, — e que insistem numa legislação a respeito, são os “ex-chefes” mafiosos que estão em regime de cárcere duro e completamente isolados das suas organizações, ou seja, Cosa Nostra, ´Ndrangheta, Camorra, Sacra Corona Unita.
Todos estão condenados e são londas as suas penas de privasão de liberdade. Um dos interessados no instituto da desassociação é Totó Riina, sanguinário chefe dos chefes. Riina responde por 600 homicídios, como mandante e ficou foragido 23 anos, sem tirar o pé da Sicília e sem perder o governo da organização.
Para esses velhos mafiosos, por evidente, não dá para se cogitar em desassociação.
–5. PANO RÁPIDO. Com a tomada do Complexo do Alemão foi dado um passo inicial. Não podemos nos enganar e o secretário de segurança do Rio de Janeiro, com muita transparência, deixa claro que o projeto só estará pronto em 2014.
O primeiro passo, frise-se, foi seguro, dentro da legalidade. Passamos no vestibular. Uma grande alegria.
(Walter Fanganiello Maierovitch)

O Ornitorrinco pede a palavra para dizer que considera Walter F. Maierovitch, juiz de direito aposentado e colunista de Carta Captal, um cara sério. Seu olhar sobre os acontecimentos no Rio merece nossa atenção.

Muita calma nessa hora, Reginaldo

Eu visito o Blog do Reginaldo Gouvea todos os dias
 
1. Sim, RG, nos amamos mutuamente e, mais ainda, um ao outro. Entretanto, devemos ser discretos, você não acha? Afinal, moramos numa cidadezinha e essas coisas se espalham muito rapidamente. A propósito, qual sua posição em relação à criminalização da homofobia e da proposta de lei para o casamento civil entre pessoas do mesmo sexo? O Ornitorrinco é irrestritamente favorável, o que não significa, que tudo fique bem claro, nenhum tipo de convite, viu RG?


2. Obrigado pelos oportunos esclarecimentos relacionados aos Anais. Eu sei o que significa a palavra. Minha pergunta era em qual deles consta essa história das gotas inevitáveis de sangue.

3. Gozado, muito gozado. A estrutura a que ex-presidentes têm direito, nos termos de lei criada, creio, nos tempos do teu herói, o FHC, agora, na vez de Lula, merece teu repúdio. Saiba que isso é prática comum, e acredito centenária, em alguns países, como os EUA, por exemplo. Lá, a estrutura é muito maior e os caras recebem bela pensão vitalícia. Nada demais. Se os problemas do Brasil fossem essas coisas mixurucas, bem, estaríamos muito bem na.foto.com, não é mesmo?

O teatro do governo do Rio e sua mídia

Marcelo Salles/fazendomedia.com
Cartaz afixado no Morro do Alemão, em 2007
Cartaz afixado no Morro do Alemão, em 2007


Eu visito FazendoMedia todos os dias

“Dia histórico para o Rio de Janeiro”. “Dia D”. “Vitória do bem contra o mal”. Esses foram alguns chavões utilizados pelas corporações de mídia para descrever a incursão das “forças de segurança” ao Complexo do Alemão, neste domingo, como a complementar a imagem da bandeira do Brasil no alto de uma das estações do teleférico recém-construído na favela. É incrível como se assemelham a narrativa do governo estadual e o discurso adotado pelas Organizações Globo. Juntos comemoram vitória no Alemão, ao tempo que varrem pra debaixo do tapete o sangue derramado no meio da semana da passada. Acham que ninguém vai questionar?
De acordo com o Fantástico, da TV Globo, os 2.600 homens da polícia militar, polícia civil, polícia federal, exército e marinha apreenderam 40 toneladas de maconha e 50 fuzis. No entanto, na fotografia publicada no site do Globo aparecem apenas 3 fuzis. Os dados oficiais da operação não foram divulgados, e as primeiras informações davam conta de 15 prisões no sábado, antes, portanto, da invasão do conjunto de favelas.
A conta não fecha. No meio da semana passada foram divulgadas, repetidamente e com assombro, imagens de traficantes fugindo da Vila Cruzeiro para o Alemão. Falavam em duzentos homens fortemente armados. Dados do próprio governo dão conta de que no Alemão existiam pelo menos mais 450 traficantes. Para onde foram os 650? Estariam entocados em algum lugar da Serra da Misericórdia? Ou fugiram milagrosamente, já que todas os acessos estavam fechados? O número de fuzis apreendidos divulgado pelo Fantástico inclui os que foram encontrados na Vila Cruzeiro? Ou estão querendo nos fazer acreditar que os bandidos os deixaram para que fossem encontrados no Alemão? Onde foi que a TV Globo aprendeu a somar?
E, mais importante: onde estão os corpos dos cerca de 40 mortos nas operações realizadas na Vila Cruzeiro e no Jacarezinho, no meio da semana passada? E os laudos cadavéricos, que podem indicar se houve ou não execuções sumárias? Qual o nome dessas pessoas? Será possível que nenhuma mãe tenha chorado essas mortes? Sua dor não é notícia? Seria prudente que essas informações fossem divulgadas, inclusive para debelar qualquer dúvida com relação à legalidade da ação policial.
Sobre as drogas que foram apreendidas, o “comentarista de segurança” da Rede Globo frisou em todos os programas da emissora, inclusive no Faustão: os crimes vão diminuir; a paz voltará ao Rio de Janeiro. Duvido, por uma razão muito simples. Se a maior parte dos traficantes varejistas está solta, e perderam grande quantidade de uma mercadoria, a droga, o que será que eles vão fazer para recuperar o dinheiro? Fundar um banco? Não. Apostar na Bolsa de Valores? Não. O mais provável é que recorram a assaltos, seqüestros relâmpagos e outros crimes, muitas vezes tão sujos quanto as opções anteriores.
As “forças de segurança”
O temido Bope parece já não ser suficiente para satisfazer o fetiche da violência da burguesia. O baile macabro dos tanques de guerra em favelas do Rio é um terrível precedente para todos nós que lutamos por democracia e Direitos Humanos. Depois disso o que vem? Vale consultar os livros de Mike Davis, sobretudo o “Planeta Favela”. Eis um trecho da resenha, pela Boitempo Editorial:
“Cada aspecto dessa ‘nova cidade’ é analisado: informalidade, desemprego, criminalidade; o gangsterismo dos senhorios que lucram com a miséria; a incapacidade do Estado de oferecer infra-estrutura e casas populares, e em contrapartida sua atuação nas remoções de ‘revitalização’ que abrem caminho para a especulação imobiliária; as soluções ilusórias de ONGs e organismos multilaterais.
“Um ‘proletariado informal’, ainda não compreendido pelo marxismo clássico e tampouco pelo neoliberalismo. A materialização extrema desse conflito está no último capítulo do livro, que trata das análises do Pentágono sobre a guerra do ‘futuro’ nas megafavelas do Terceiro Mundo, e o presente do exército norte-americano tentando monitorar as vielas de Sadr City, a maior favela de Bagdá”.
No Haiti, onde lidera uma missão das Nações Unidas, há alguns o Brasil “treina” militares para usar em favelas aqui. Parece que a hora chegou. O país onde houve a primeira revolução dirigida por escravos foi usado para preparar a repressão militar em espaços habitados por descendentes de escravos. É o recrudescimento da tese do “inimigo interno”, doutrina remanescente da ditadura de 1964 que foi dissecada pela presidente do Grupo Tortura Nunca Mais, Cecília Coimbra, no livro “Operação Rio – o mito das classes perigosas”, onde analisa o uso das Forças Armadas para o policiamento da cidade durante a Eco-92.
Entre as dezenas de mortes na Vila Cruzeiro e no Jacarezinho, no meio da semana passada, até agora não consta que as “forças da ordem” tenham tido alguma baixa, felizmente. No entanto, este fato deveria ser mais do que suficiente para derrubar a ideia de “guerra”, o que pressupõe equivalência de forças e disputa pelo poder político – o que também está fora de cogitação, pois quem trafica drogas não quer chegar ao governo, quer apenas manter os lucros com esse negócio privado pra lá de capitalista.
Um fato, porém, deveria inverter a tendência encampada com entusiasmo pelas corporações de mídia, aquela que faz apresentadores de telejornal chegarem próximos ao orgasmo: vasculhar e destruir! As mais de trinta pessoas que morreram – incluindo uma adolescente de 14 anos e outras três pessoas que nada têm a ver com o negócio da droga – morreram durante operações das “forças de segurança”. Por esta razão, a Anistia Internacional divulgou nota pedindo que as autoridades brasileiras “ajam com força proporcional e dentro da lei”, e recorda a mega-operação realizada em 2007 na mesma favela do Alemão.
Breve histórico
A preocupação não é infundada. Em 2007, a mega-operação policial deixou mais de 40 mortos no Alemão, 19 num único dia, sendo que depois da ação não houve melhora na segurança pública da região. O detalhe perverso: uma perícia independente constatou que muitas dessas mortes foram execuções sumárias. Eu estive lá. Passei algumas semanas percorrendo quatro das treze favelas do Alemão, cheguei a dormir no Morro do Alemão, favela que dá nome a todo o conjunto, que se estende por cinco bairros da zona norte carioca. Tive a oportunidade de ouvir cerca de 100 pessoas, e a reportagem foi publicada em cinco páginas na edição de agosto de 2007 da revista Caros Amigos, então editada por Sérgio de Souza. Resumo da ópera: os traficantes varejistas são cruéis, sim, relatam os moradores, mas o medo maior é da polícia, que perpetrava uma série de violações aos direitos humanos. Uma informação importante: naquela ocasião, apenas uma semana depois da invasão policial o tráfico varejista já operava normalmente.
Aqui tem algumas fotos que fiz para além da reportagem: http://www.fazendomedia.com/diaadia/protoblog6.htm
E aqui uma matéria publicada no Fazendo Media, um contraponto à pesquisa Ibope divulgada à época, que “mostrava” apoio da “população” às mega-operações: http://www.fazendomedia.com/novas/politica240707.htm
O papel das corporações de mídia
As corporações de mídia jogam um papel essencial em situações como essa. Podem ser importante instrumento de denúncia contra violações dos Direitos Humanos, da mesma forma que podem legitimar uma matança indiscriminada. A inclinação do noticiário dependerá sempre dos interesses da empresa que o comanda, apesar de todas se declararem imparciais e a serviço da sociedade. Assim, não importa que as “forças de segurança” contem com 2,6 mil homens, helicópteros, tanques de guerra e preparação profissional, enquanto, do outro lado, seriam 600 homens, de chinelo e bermuda. Para diluir a desigualdade, o que fazem os donos da mídia que “adoram matadores”, conforme definição do jurista Nilo Batista? Reproduzem “ad infinutum” as imagens da fuga cinematográfica de bandidos da Vila Cruzeiro para o Complexo do Alemão.
E apresentadores de televisão perguntam, com sangue escorrendo pelos lábios: “por que a polícia não cercou os bandidos? Não sabiam que iriam fugir por ali?”.
Não há uma linha sequer criticando qualquer aspecto da operação patrocinada pelo governo. Seriam anjos enviados por Deus, incapazes de errar? Por que não se investigam as denúncias da Rede Contra a Violência, que em nota afirma que policiais invadiram e saquearam residências na Vila Cruzeiro? Parece que em se tratando de perseguir o crime em áreas pobres, o olhar crítico, fundamental à prática jornalística, dá lugar ao engajamento cego, típico dos vassalos da ditadura.
Relato crítico de uma moradora
Neste sábado, dia 27 de novembro de 2010, parte do Alemão ficou sem luz. A repórter da Globo tentou explicar: “por questão de segurança”. Milhares de pessoas tiveram a energia elétrica cortada em nome da perseguição de centenas. Quem me conta é a Renata, que mora na favela e vem denunciando uma série de arbitrariedades em seu Facebook. E se faltasse luz no Leblon, em quanto tempo voltaria? Mas as corporações de mídia não irão ouvir a Renata. Usarão todo o espaço com aqueles dispostos a corroborar a opinião que interessa às “forças da ordem”. Acho que nem na invasão do Iraque a mídia brasileira, pelo menos a televisiva, esteve tão “embeded”, embutida, afinada com as “forças da ordem”.
Por outro lado, chegam informações de que os bandidos estão expulsando moradores de suas casas e entrando à força. Que os policiais estão pedindo comida e água para os moradores, porque o governo não lhes fornece as necessidades básicas. Que até agora os moradores, no Alemão, estão sendo tratados com educação pelas “forças de segurança”, que só permitem que os moradores entrem e saiam da favela se apresentarem documento de identidade. Seria mais honesto se todos esses aspectos fossem mostrados, e não apenas este ou aquele.
Renata não poupa críticas à “imprensa sensacionalista, a Globo, que não mostra a nossa situação real”. Ela conta a história de um casebre que fica no caminho da Vila Cruzeiro para o Alemão, e que foi marcado a partir de imagens de um helicóptero da Globo como local de traficantes. Na verdade, a habitação pertence a Anderson e Patrícia, que são muito pobres, mas, apesar disso, coleguinhas, não são bandidos e lá vivem com os filhos. Resultado: os dois tiveram que fugir e estão abrigados numa igreja próxima, já que sua casa virou alvo.
Por fim, Renata desabafa: “Estou cansada. É sempre a gente que sofre”.
Na favela, vale lembrar, não se fabricam armas e nem drogas. Por que não perguntamos como elas chegam lá? Por que a inteligência da polícia não detectou os incêndios? A reconfiguração da cidade para a Copa do Mundo, os Jogos Olímpicos e os Jogos Militares estão por trás da barbárie? Por fim, e indo além: e as mal chamadas milícias? Já se converteram definitivamente em “milídias”, aguardando pacientemente o fim da “guerra” para ampliar o seu “mercado” no Rio de Janeiro?
O povo brasileiro não deve se deixar iludir pela operação casada entre governo do Rio e corporações de mídia. Não se pode vencer o tráfico de drogas nas favelas, nem com tanques de guerra, nem mesmo com bombas atômicas. Por um motivo muito simples: os donos do negócio não estão lá.

domingo, 28 de novembro de 2010

Chinelada na nossa bundona classe-média. Inclusive na minha

Eu visito VioMundo todos os dias

O Brasil derrota o Brasil. 

Para delírio do Brasil

Por Luiz Carlos Azenha
A população brasileira vibra. “Forças de segurança” garantiram a vitória do Brasil contra… quem mesmo? O Brasil.
Finalmente, nossa gloriosa bandeira está hasteada em Iwo Jima.

A foto foi publicada no site do Sidney Rezende.
O discurso é grandiloquente: o território teria sido “libertado”, o “momento simbólico entra para a história”, é a “atitude emblemática”.
Na cobertura dos acontecimentos do Rio de Janeiro só está faltando aquela vinheta “Brasil!” que a Globo usa na Copa do Mundo.
Em uma única edição do Jornal Nacional, dois populares apareceram falando na vitória do “bem”.
É a negação, pela força, de que o “mal” também somos nós, brasileiros.
Ou fomos invadidos por uma força estrangeira de traficantes? Seriam seres extraterrestres os bandidos do Alemão? Seriam resultado de geração espontânea?
Por trás do heroísmo do BOPE, dos blindados que sobem o morro com a bandeirinha do Brasil tremulando, dos repórteres que usam coletes à prova de bala, por trás de todo o circo há uma guerra do Brasil contra o Brasil.
Os “ratos” que fogem pelo esgoto somos todos nós, brasileiros.
É nessa hora da “exceção” que reconhecemos o verdadeiro Brasil: o que clama pelo fuzilamento, o que nega direitos básicos elementares para os outros (inviolabilidade do domicílio, por exemplo), o que se concentra em soluções de curto prazo, o que esconde a miséria quando vai receber visita (o mais importante é ‘preparar o Rio’ para a Copa e as Olimpíadas).
A maconha, a cocaína e as anfetaminas amplamente consumidas nas festas e casas da classe média brasileira, afinal, aparecem lá por “geração espontânea”, do mesmo jeito que os traficantes do Alemão e da Vila Cruzeiro.
Para que tudo continue como está, eu acrescentaria. Para que o Brasil continue gastando mais com juros do que com saúde, educação e salários.
Para que, assim que a farsa acabar, os “heróis” de hoje sejam acusados de abalar as contas públicas, se continuarem a reivindicar a aprovação da PEC 300, a que visa criar um piso salarial para os policiais brasileiros.
Deveríamos ter vergonha de ter deixado as coisas chegarem onde chegaram. Deveríamos ter a decência de não usar o patriotismo onde cabe a vergonha.

São Paulo, tucanolândia, maio de 2006. Haverá quem garanta que os Anais - que porra é essa? - justificam o sangue derramado de mais de 400 pessoas

Eu visito o Blog do Luiz Nassif 

todos os dias.

Este post é dedicado aos tais 

Anais do Reginaldo Gouvea

que está a nos garantir que algum sangue 

haverá de correr para que 

nossas vidas sigam em frente.

No que me diz respeito, 

declaro em alto e bom som:

no cú, pardal!

Lembrem-se dos crimes de maio de 2006, 

em São Paulo


Uma das páginas mais vergonhosas de São Paulo foi desenhada nos dias que se seguiram aos ataques do PCC na cidade.
Durante alguns dias, a polícia paulista - sob o comando de um Secretário de Segurança alucinado e de um governador interino - saiu atrás de vingança. Até as transmissões de rádio da polícia foram silenciados, para que o crime se consumasse sem testemunhas.
Mais de 400 pessoas foram assassinadas sumariamente, muitas sem histórico policial.

Real e domingueira constatação presidencial n° 236/2010

Tutuca é danadinho. Sempre que eu digo que ele é de direita, sai agitando os braços, correndo e gritando o Sarney está com o PT, o PT está com Sarney! 

Não que ela seja um, que fique claro, mas sabem aquela história manjada do batedor de carteira que sai gritando "pega, ladrão, pega ladrão!" logo depois de afanar a bolsa da velhinha? 

Pois é, meus caros, pois é. E assim mais um domingão pachorrento e sacal vai chegando ao fim.

Palavra de Fidel


Eu visito Cubadebate todos os dias
 
Siete dias sin muertos por cólera
 
27 Noviembre 2010
 
Ayer expliqué que en Haití habían fallecido 1 523 personas como consecuencia del cólera y a su vez las medidas adoptadas por el Partido y el Gobierno de Cuba.
No pensaba escribir hoy una palabra sobre el problema. Desisto sin embargo de esa idea, para elaborar una breve Reflexión sobre el tema.
La Doctora Lea Guido, representante de la OPS-OMS en Cuba, -en este momento representante de ambas organizaciones en los dos países y persona de gran experiencia-, declaró en la tarde de hoy que en las condiciones actuales de Haití se esperaba que la epidemia afectara a 400 mil personas.
Por otro lado, el Viceministro de Salud de Cuba y Jefe de la Misión Médica Cubana, el embajador de nuestro país en Haití y otros compañeros de la Misión, han estado reunidos todo el día con el presidente René Preval, la Doctora Lea Guido, el Ministro de Salud haitiano y otros funcionarios de Cuba y Haití, elaborando las medidas que se aplicarán con urgencia.
La misión médica cubana atiende 37 centros que enfrentan la epidemia, donde han atendido hasta hoy 26 040 personas afectadas por el cólera, a los que se adicionarán de inmediato, con la Brigada “Henry Reeve”, 12 centros más (para un total de 49) con 1 100 nuevas camas, en casas de campaña diseñadas y elaboradas para esos fines en Noruega y otros países, ya adquiridas con los fondos para enfrentar el terremoto, entregados a Cuba por Venezuela para la reconstrucción del sistema de salud en Haití.
Al anochecer de hoy llegó una noticia alentadora del Doctor Somarriba: durante los últimos 7 días no se ha producido un solo fallecimiento por cólera en los centros atendidos por la misión médica cubana. Tal índice sería imposible mantenerlo, ya que otros factores pueden incidir en ese resultado, pero ofrece una idea muy reconfortante sobre la experiencia adquirida, los métodos adecuados y el grado de consagración alcanzados.
Nos complace igualmente que el presidente René Preval, cuyo mandato finaliza el próximo 16 de enero, haya tomado la decisión de convertir la lucha contra la epidemia en la actividad más importante de su vida, la cual legará al pueblo de Haití y al Gobierno que lo suceda.
Fidel Castro Ruz
Noviembre 27 de 2010
9 y 56 p.m.

O Ornitorrinco pede a palavra para dizer, direitosos de merda de diferentes extrações, eis aí um país comunista, de esquerda, revolucionário e muito pobre, mas, como só a esquerda é capaz, solidário, presentemente solidário, irreversivelmente solidário.  

Observem que Fidel faz referência, direitosos espumantes, de ajuda fornecida pela Venezuela, pelo Chavez, oh, que horror!

Lembro de gente "denunciando" sofregamente quando o governo Lula decidiu doar, creio que neste ano de 2010, uns 25 milhões de dólares para a Autoridade Palestina.  Diziam que estavamos nos "garantindo" com o povo palestino, ou merda assemelhada. Um gesto de modesta solidariedade, do qual me orgulho definitivamente, foi tratado como uma espécie de manobra espúria.

São os mesmos que nos acusam de sermos da "esquerda estúpida", os mesmos que consideram que algum sangue pode e será derramado como preço a ser pago para a solução de problemas.

No topo, a assinatura de Fidel Castro Ruiz, o Comandante, carajo!

Vale-tudo: o Estado pode usar métodos criminosos, Reginaldo Gouvea?

Um colega de um grande veículo de comunicação me perguntou, na manhã de hoje, qual minha posição sobre uma discussão que ganhou algumas redações: por que a polícia não metralhou os 200 traficantes da Vila Cruzeiro quando estes corriam em fuga após a entrada dos blindados da Marinha na comunidade. Segundo ele, parte das opiniões culpou a “turma dos direitos humanos”, que iria chiar internacionalmente quando a contagem de corpos terminasse, manchando a imagem do Rio de Janeiro (como se o Estado precisasse de ajuda para isso). Outra acredita que as câmeras presentes nos helicópteros da Globo e da Record que sobrevoavam a área – e foram alvo de reclamações do Bope pelo twitter (ah, esse admirável mundo novo…) – impediram um massacre. Uma terceira falou das duas ao mesmo tempo.
De qualquer maneira, o problema em questão não é de que o “Estado não pode usar método de bandido sob o risco de se tornar aquilo que combate”, mas sim de que “droga, tem alguém olhando”. Muita gente torceu para que os criminosos em fuga fossem executados sumariamente. Ao mesmo tempo, parte da imprensa (e não estou falando dos programas sensacionalistas espreme-que-sai-sangue) parece vibrar a cada pessoa abatida na periferia, independentemente quem quer que seja. Jornalistas, cuja opinião respeito, optaram pela saída fácil do “isso é guerra e, na guerra, abre-se exceções aos direitos civis”, tudo em defesa de uma breve e discutível sensação de segurança. Afe.
Relembrar é viver: as batalhas do tráfico sempre aconteceram longe dos olhos da classe média e da mídia, uma vez que a imensa maioria dos corpos contabilizados sempre é de jovens, pardos, negros, pobres, que se matam na conquista de territórios para venda de drogas ou pelas leis do tráfico. Os mais ricos sentem a violência, mas o que chega neles não é nem de perto o que os mais pobres são obrigados a viver no dia-a-dia. Mesmo no pau que está comendo hoje no Rio, sabemos que a maioria dos mortos não é de rico da orla, da Lagoa, da Barra ou do Cosme Velho. Considerando que policiais, comunidade e traficantes são de uma mesma origem social, é uma batalha interna. Então, que morram, como disseram alguns leitores esquisitos que, de vez em quando, surgem neste blog feito encosto.
De tempos em tempos, essa violência causada pelo tráfico retorna com força ao noticiário, normalmente no momento em que ela desce o morro ou foge da periferia e no, decorrente, contra-ataque. Neste momento, alguns aproveitam a deixa para pedir a implantação de processos de “limpeza social”. Já bloqueei comentários que, praticamente, pediam que os moradores de favelas fossem retirados do Rio.
Quando a atual onda de violência acabar, gostaria que fossem tornados públicos os exames dos legistas. Afinal de contas, acertar um tiro na nuca de um suspeito no meio de um confronto armado demanda muita precisão do policial – e depois registrar o ocorrido como auto de resistência demanda criatividade. Em 2007, a polícia chegou chegando nos morros, cometendo barbaridades, sem diferenciar moradores e traficantes, sem perguntar quem era quem. Duas dezenas de pessoas morreram. Naquele momento, o Rio optou pelo caminho mais fácil do terrorismo de Estado ao invés de buscar mudanças estruturais (como garantir qualidade de vida à população para além de força policial dia e noite) para viabilizar os Jogos Panamericanos. Imagina agora com a Copa e as Olimpíadas então. Dose dupla.
Ninguém está defendendo o tráfico, muito menos traficantes (defendo a descriminalização das drogas como parte do processo de enfraquecimento dos traficantes, mas isso é história para outro post). O que está em jogo aqui é que tipo de Estado queremos e o tipo de sociedade que estamos nos tornando. Muitas das ações que estão ocorrendo vão criar uma sensação de segurança na população passageira e irreal, que vai durar até a próxima crise.

O Ornitorrinco pede a palavra para dizer de forma clara, pausada e com meridiana certeza que, mesmo que alguns Anais - que merda seria isso, ô Reginaldo? - proclamem e garantam que algum sangue será necessário correr para que problemas sejam solucionados, nós aqui do lado esquerdo lutaremos rancorosamente contra este tipo de porcaria intelectual. 

PAC 2 destina R$ 371 milhões para grandes cidades do Paraná

Querem um terceiro turno, rapazes? 

Pois, tomem! 

Eu visito o Blog do Esmael todos os dias

por Roger Pereira, via O Estado do Paraná


As grandes cidades paranaenses receberão, a partir do ano que vem, R$ 371,99 milhões em investimentos federais para obras da segunda etapa do Programa de Aceleração do Crescimento – PAC 2. Sessenta e três projetos paranaenses estão na lista final de obras selecionadas para os municípios que compõem o grupo 1 (capitais, regiões metropolitanas e cidades com mais de 100 mil habitantes). São nove grandes municípios contemplados, além de vários da Região Metropolitana de Curitiba.
Publicada no Diário Oficial da União na semana passada, a lista de obras em cidades do grupo 1 que receberão recursos do PAC contém 1.258 obras, com investimento total de R$ 17,27 bilhões (sendo R$ 11,8 bilhões a fundo perdido do Orçamento da União e R$ 5,46 bilhões em financiamentos com recursos do FAT e do FGTS). Os municípios do grupo 2 (cidades entre 50 mil e 100 mil habitantes) e do grupo 3 (menos de 50 mil) ainda estão sendo selecionados. Do Paraná, foram selecionados 24 projetos de habitação (custo total de R$ 53,63 milhões), 19 de saneamento (R$ 58,02 milhões), 13 de pavimentação (R$ 53,23 milhões) e cinco de drenagem (mas com custo total de R$ 207,11 milhões). Constar na lista final de obras selecionadas não é garantia de recebimento dos recursos, cabe aos municípios, agora, apresentar ao Ministério das Cidades seus projetos técnicos e o plano de execução da obra, para que o recurso seja liberado gradativamente.
Um projeto de drenagem na capital paranaense é o mais caro do Estado a ser financiado pelo PAC. Serão R$ 144,41 milhões para o manejo de águas pluviais. Estão previstas a execução de 42 km de perfilamento de fundo de rio, cinco bacias de acumulação, 10 km de canal com muro, microdrenagem, programa de despoluição e ações educacionais com os recursos, considerados fundamentais para a prevenção de enchentes na capital. Curitiba receberá, ainda, outros seis projetos de habitação, saneamento e pavimentação, totalizando R$ 195,27 milhões em investimentos. A Vila das Torres, por exemplo, receberá R$ 12,09 milhões em melhorias nas moradias.
Outra grande obra de drenagem do PAC 2 do Paraná ocorrerá em São José dos Pinhais, na Região Metropolitana de Curitiba, Serão investidos R$ 46,2 milhões em obras nos bairros Guatupê e Borda do Campo. A Região Metropolitana também será contemplada com grande obra de saneamento em Rio Branco do Sul, R$ 29,19 milhões para a implantação do sistema de esgoto, e de pavimentação em Fazenda Rio Grande, R$ 20,9 milhões em asfalto.
Em Maringá (noroeste do Estado) a principal obra contemplada pelo PAC 2 não foi pedida pela prefeitura. São R$ 8,74 milhões solicitados pela Sanepar para a ampliação da rede de esgoto da cidade. Da prefeitura, outros dois projetos foram selecionados: pouco mais de R$ 5 milhões para pavimentação e construção de galerias nos bairros Tarumã e Campos Dourados. “Pedimos recursos para outros três projetos, mas não se enquadraram às exigências do PAC. Pelo menos, foram aprovados dois dos mais urgentes, reivindicações de mais de 10 anos da população”, disse o secretário municipal de obras, Walter José Progiante. “A obra da Sanepar também é fundamental, praticamente completa a rede de esgoto da cidade”, emendou o secretário, que se disse satisfeito com os projetos contemplados no município. “Mas prefeitura, sabe como é, está sempre pedindo. Vamos, agora buscar outras formas de financiamento para esses três projetos de drenagem que ficaram de fora”, disse.
O município de Cascavel (oeste do Estado), que receberá R$ 23,83 milhões em investimentos, usará mais da metade deste recurso em obra de saneamento básico. Estão previstos R$ 14,25 milhões para a ampliação do sistema de esgotamento sanitário da cidade. Em Londrina (norte), a principal obra também é de saneamento. R$ 4,93 milhões para a ampliação da rede coletora. Ponta Grossa (Campos Gerais) receberá R$ 9 milhões para a pavimentação em sete bairros. Confira no quadro ao lado, quanto cada município vai receber em investimentos do PAC 2.

sábado, 27 de novembro de 2010

E desse sangue que os teus anais falam, Reginaldo?

Eu visito  o 
Blog da Cidadania 
todos os dias

"Sábado, fim da manhã, dou uma escapada do escritório. Fui trabalhar em um dia em que costumo dedicar ao descanso porque precisava “preparar” a viagem de negócios que começo a fazer no dia seguinte.
Preciso almoçar. Café e cigarros, ininterruptamente – consumo um e outro sem perceber, quando trabalho ou escrevo –, fizeram-me cair a pressão.
O bar serve uma das feijoadas mais honestas da região da Vila Mariana. De carro, chego lá em 5 minutos.  Gasto mais cinco esperando pela comida e mais dez para comer. Antes da uma estarei de volta.
Meu escritório está na região há quase 15 anos. Vários conhecidos freqüentam o estabelecimento em que matarei a fome. Ao chegar lá, cumprimentam-me e me convidam a sentar à mesa repleta de garrafas de cerveja vazias.
Hesito. São pessoas que têm por costume fazer comentários que me desagradam. A educação, porém, fala mais alto e aceito. Encaro a turma que têm os olhos injetados pelo álcool.
Alguns dos homens, estando todos na mesma faixa etária que eu, mencionam a entrevista com Lula e começam a fazer piadinhas próprias da mentalidade política e ideológica que infesta a parte de São Paulo em que vivo.
Permaneço impassível e calado. Percebem que não estou achando graça. Um deles, menos grosseiro, resolve mudar de assunto:
– E o Rio, hein! Que tragédia!
Percebo que é outro tema que não vai prestar e me abstenho de comentários. Dedico-me à excelente batidinha de limão que servem ali.
Um outro decide escancarar a bocona: “Sabe qual é o problema do Rio?”. Percebendo que vem pedrada, mas já começando a me irritar, pergunto qual seria o “problema do Rio”.
– Pretos, cara. Notou que são todos pretos?
– Todos, quem, cara-pálida?
– Todos. Bandidos, moradores da região. Tudo preto. Esse é o problema do Rio.
Reflito, antes de responder. Ao menos em uma coisa esse demente tem razão: a tragédia carioca tem cor. Realmente, bandidos e população atingida por eles são negros em expressiva maioria. Então respondo:
– Mas a culpa não é deles, é sua. São racistas como você que fizeram com que mesmo depois de mais de um século do fim da escravidão os negros continuassem mergulhados nessa tragédia…
– Mas…
– Aqueles traficantes quase todos negros, um dia foram crianças que se inebriaram pelo poder que os bandidos exercem sobre essas comunidades.
A mesa com seis homens de meia idade fica em silêncio, perplexa com o que acabara de ouvir. Levanto-me, vou até o caixa, pago pela comida que não comi, subo no carro, sem me despedir de ninguém, e vou embora sem almoçar.
Já não havia mais fome.
Levo comigo, porém, uma certeza: a tragédia no Rio tem cor. Existe por conta dessa cor.
Aquelas populações, pela cor da pele, foram mantidas em guetos miseráveis, longe das preocupações dos setores exíguos e preconceituosos da sociedade que fingem que a culpa é dos governantes."

Rankor, o rancoroso vermelho. A saga de um sujeito rancoroso mesmo depois de ganhar as eleições e de aplicar uma sova na direita esverdeada


Você pode e deve visitar o
Blog do Reginaldo Gouvea
todos os dias.
É difícil, mas necessário.
Sacrifícios que devemos
todos cumprir, entendem?

De um lado, poucas coisas me comovem mais do que apelos à união, oh, vamos todos juntos, oh, precisamos nos unir, oh, o pau está comendo, oh, uma crise está instalada no Rio de Janeiro, oh, Antonina, Paraná, Brasil está, se não nos unirmos, à beira da completa dominação pelo narcotráfico, oh, só jesus salva e cousa e lousa, ai, que medo, ai, estou com o fiofó na mão.

Poucas coisas, entretanto, me causam mais ânsias e crises de vômito, exceto talvez suflê de chuchu e proteína texturizada de soja, que me deram ontem no almoço. Sonia e Jean, mulher e filho, me fizeram essa inominável sacanagem. E riram, os dois, quando eu comia aquela farofa estranha, sem perceber nada. Um horror, meus amigos, um horror vegetariano.    

Quem pode ser contra os apelos desesperados de Reginaldo, o Gouvea, assustado com as imagens que vê no jornal nacional sobre o Rio de Janeiro, e que imagina que Antonina está hoje quase a mercê das Farc? Quem pode ser contra os apelos sobre a necessidade de nos unirmos todos para combater o narcotráfico, mesmo que isso custe algum derramamento de sangue, que ele considera inevitável, porque isso está escrito nos tais Anais, como ele afirma?

Pai e avô, tenho medo que as drogas alcancem meu filhos e netos e quero que traficantes sejam presos, processados  condenados e, como é lindamente apropriado, adoro unidade, amo união e estamos todos juntos, oh, estamos irmanados e porcarias assemelhadas.

Quando penso nisso, lágrimas escorrem em meu rosto vincado pelo sol, pelo sal, pelas lutas todas, e pelas porras das contas a serem pagas nas porras de cada final de mês.

Ocorre que a vida, ela mesma, a porra da vida, meus caros, mostra-nos que não somos e nunca fomos, aliás e ainda bem, capazes de construir essa balela de pensamento único, de única direção, de isso e aquilo. Ainda bem, repito e reafirmo.

Ainda bem que não consigo e nunca consegui construir unidade e união e ajuntamento com gente de direita, esse povo que é capaz de dizer que, para combater o narcotráfico algumas gotas de sangue serão derramadas, mesmo que de gente inocente. Os Anais, dizem e vociferam, provam que isso é inevitável.

Que porra de Anais são esses, Reginaldo? A Bíblia, o Secreto Programa de Governo do Serra, as Promessas Engomadinhas do Beto “Desconforto Psicológico” Richa? De que merda de Anais, meu filho, você está a falar? 

De qual sangue derramado você está falando, RG? Do seu sangue, do sangue da sua companheira, do sangue do seu filho? Do sangue do seu irmão, do sangue do filho do seu vizinho? Do meu sangue, do sangue dos meus filhos, do sangue dos meus netos?

Não, meu caro, o sangue que você considera inevitável e necessário derramar é, como sempre, o sangue de gente pobre, da periferia, das vilas, das favelas, dos morros, dos negrinhos e dos pobres de merda, sangue de gente que você nunca verá e que, no mais das vezes, é quem toma no rabo quando a classe média exige que aviões e porta-aviões, e tanques, e jatos voem e destruam tudo por lá, no Rio de Janeiro, longe daqui, mas que se vierem fazer por aqui as mesmas coisas, desde que não atirem em mim, no meu filho e na minha família, tudo bem, umas porras de gotas de sangue, segundo os Anais do Reginaldo, serão inevitavelmente derramadas.

Não, não tenho opinião formada, completa e sólida sobre os acontecimentos do Rio. Desconfio, entretanto, que a bandidagem está a responder a boas ações que têm sido implementadas, como as UPPs, as Unidades Policiais Pacificadoras, o que não significa, imagino aqui de Antonina, a solução das coisas todas.

Agora, não me venham com alarmismo de quem acredita no Jornal Nacional e é leitor de Veja, meus caros, não tentem transformar Antonina numa espécie de subúrbio do Rio de Janeiro ou coisa assim.

Sim, é certo que há responsabilidades de diferentes níveis de governo, inclusive do governo Lula, mas, pai e avô, não gostaria de ser um dos atingidos, não gostaria que meus filhos, meus netos, que as pessoas que me são caras e essenciais derramassem o sangue previsto nos anais desse sujeito, porque ele fala é do sangue derramado pelos outros, é óbvio.

Conheço o tipo, manjo o discurso, e vou ao banheiro para uma vomitada básica.

Por último, Reginaldo Gouvea, o que precisamente você sugere, quando vem com essa conversa cerca-lourenço, meu filho, de “Pessoas de bem da nossa cidade vamos acordar, vocês não podem ficar omissos as bandalheiras e mazelas que ocorrem em nosso município, lembre-se sempre "nós somos a MAIORIA."

Você pode ser mais claro? Você pode ser explicitamente claro? Você pode relacionar as tais bandalheiras e mazelas? Quem está a cometer bandalheiras e mazelas? O prefeito, o vice, eu, os vereadores, o juiz, o delegado, meu filho Jean, meu vizinho, algum blogueiro sujo ou limpo, quem, afinal de contas, RG, está a cometer bandalheiras?  

Que conversa é essa de “nós somos a maioria”? É uma ameaça, um alerta, um aviso, uma lembrança? Maioria? O que vocês ganharam, rapazes? Quando, onde? Que porra de maioria é essa? Que furdunço é esse, RG?  

Para que tudo fique claramente assentado: sou uma das pessoas de bem desta cidade, nem melhor nem pior que você, Reginaldo.

Mas quero conveniente e higiênica distância de quem considera que os anais justificam algumas gotas de sangue. 

No cú, pardal!

PAULO ROBERTO “RANKOR” CEQUINEL
THE “BIG MAJORITY” ORNITORRINCO COMPANY