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Antonina, Litoral do Paraná, Palestine
Petroleiro aposentado e petista no exílio, usuário dos óculos de pangloss, da gloriosa pomada belladona, da emulsão scott e das pílulas do doutor ross, considero o suflê de chuchu apenas vã tentativa de assar o ar e, erguido em retumbante sucesso físico, descobri que uma batata distraída não passa de um tubérculo desatento. Entre sinos bimbalhantes, pássaros pipilantes, vereadores esotéricos, profetas do passado e áulicos feitos na china, persigo o consenso alegórico e meus dias escorrem em relativo sossego. Comendo minhas goiabinhas regulamentares, busco a tranqüilidade siamesa e quero ser presidente por um dia para assim entender as aflições das camadas menos favorecidas pelas propinas democráticas.

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Eis a prova: ainda existem polacos da nhanha e eles fazem dobradinha!


O Ornitorrinco pede a palavra para dizer que, nascido e criado em Curitiba, que tem importante colônia polonesa, temerariamente ousa recomendar o Blog Do Polaco Doido (link na Mixórdia de Blogs Sujos). Ele merece o apelido, creiam. Olhem o furdunço que apronta para apresentar uma prosaica receita de dobradinha. Eu já decidi que o visitarei todos os dias, indo de caroça lá na Bareirinha, levando uma carga de xaxixo e umas béra. Divirtam-se.   

Culinária doida

Tá, eu sei que é só falar a palavra bucho que muita gente já faz cara feia!
Ouvem-se expressões com as do tipo:
“Nossa esse negócio é nojento!”
“Bucho é muito ruim! Eu não ponho esse troço na boca!”
“Isso aí fede muito! Quem é que come esse troço?”
“Você já viu matarem um boi e tirarem o bucho do bicho? É nojento bagaraio velho, cê tá loco se pensa que vou comer isso aí!”
E várias outras variações destes!
O bucho é uma das quatro partes do estômago do boi. Que como todo mundo deveria saber, é um bicho ruminante que come basicamente capim!
O capim tem um valor nutricional extremamente baixo! Daí, o boi come capim pacas! Mais é muito capim mesmo, você não tem noção de quanto capim é preciso para engordar um boi!
Outro problema é a digestão do capim - quase que só celulose - as enzimas do estômago dos mamíferos não digerem a celulose. Daí a sábia mamãe natureza encontrou uma solução no mínimo inteligente. Enfiou no estomago dos ruminantes, uns outros bichinhos que digerem aquele capim que o boi pastou e devolvem para o boi os nutrientes que ele precisa para engordar.
Todo esse processo é extremamente lento e justamente por isso, que você nunca vai ler em qualquer blog do universo uma postagem escrita por um boi. Tudo que eles fazem é pastar e ruminar, pastar e ruminar e, as vezes ruminar pastando!
O burro, o jegue e o asno, não são ruminantes. É bem provável que você já tenha se deparado com postagens de algum destes seres navegando por aí. Espero que não seja o caso deste texto aqui.
Bom, chega de enrolação e vamos ao que interessa: A dobradinha do Polaco Doido!
É uma receita de origem portuguesa, lá na terrinha mãe, eles chamam de Dobrada ou Tripa. Lógico, não se trata de tripas de boi, estas você come toda vez que manda uma lingüiça pra dentro.
Um belo dia o polaco comprou um saquinho com meio quilo de feijão branco, lá tinha uma receita da dobradinha. Após vários aperfeiçoamentos desta receita, o resultado final é este processo que você vai ver agora.
Com tudo nos conformes, sem nada para atrapalhar o raciocínio, vamos para o mercado. A primeira parada, claro, as bebidas. Pode pegar umas três ou quatro caixinhas, essa receita exige uma quantidade exorbitante de etílicos. Devo confessar que para o polaco, três caixinhas foi pouco!
No açougue, primeiro pergunte para o açougueiro o porquê da lingüiça dele estar tão chocha e murcha!
Depois diga para ele que você vai fazer a dobradinha e precisa de um quilo de bucho no capricho. Não vai pegar aquele das bandejinhas, aquilo não presta só tem refugo. Vai lá confia no açougueiro, é a profissão do cara, ele sabe o que está fazendo. Provavelmente ele vai pegar uma peça* congelada, peça** para que ele corte em tiras finas, não mais que um centímetro, um quilo, um quilo e pouco está perfeito! Mais, uma lingüiça calabresa, uns trezentos gramas de toucinho defumado, novamente peça para o cara aquele pedaço carnudo que ele mostra só pros clientes mais “chegados” e por fim, mais uns trezentos gramas de costelinha de porco defumada.
Beleza, agora pegue uns dois maços de cebolinha, quatro tomates, duas batatas médias e um pacote de meio quilo de feijão branco.
*(substantivo feminino, parte de um todo)
**(verbo pedir, 3º pessoa singular do afirmativo imperativo)
Preparando o Bucho!
O Blog do Polaco Doido Adverte:
O excesso de cerveja na preparação deste prato, pode e deve causar uma ressaca de proporções faraônicas!
Se você não tiver uma boa tolerância ao álcool, utilize apenas um quarto da dose aqui recomendada!
Comentário pertinente:
Velho, o bagulho foi violento, nem sei cumé que o polaco consegue escrever com tanta ressaca e dor “nos crânio”.
E vamo lá. Coloca toda aquela cerveja pra gelar, o bucho coloque numa bacia, tigela ou algo parecido com água fresca para descongelar, se for o caso.
Meu! Não vai descongelar o bucho com água fervente ou microondas, fica uma caca. E outra, isso aí é comida de macho, nem venha com frescuras, deixa descongelar naturalmente!
Quando a cerveja estiver gelada, o bucho já terá descongelado naturalmente. Abra a primeira latinha, tome metade da lata de um gole só. Vai lá, você merece! Nada como um golaço de cerveja gelada num fim de tarde quente de sexta feira!
Mete todo aquele bucho dentro de uma panela, cubra todo o conteúdo com água fresca torneral, acrescente um copo de meia dose de pinga de vinagre ou 5 colheres cheias. Se tiver por aí um pouco de bicarbonato de sódio, pode colocar umas duas pitadas, se não tiver, não tem problema. Mete a panela no fogo alto, cubra e vai curtir a vida, faça um chamego na patroa, vá ver sacanagem na net ou qualquer outra coisa que goste! Este primeiro pré-cozimento vai demorar mais ou menos uma hora, dá facinho pra tomar umas cinco latinhas.
Escoe o bagulho, enxágüe bastante e repita o processo mais umas três vezes.
Pelos meus cálculos já deu um total de dezesseis latinhas, coisa de fazer inveja ao próprio “Shirek”!
Agora velho, sem frescura ou viadagem, vamos meter a mão no bucho, não aquela ex-namorada feia que você pegava nos tempos das vacas magras. É no bucho que a gente tá fazendo. Ô meu tá ligado?
Aquele monte de bucho que a gente colocou na panela antes, virou um emaranhado de tiras brancas, certo? Pega um e vai cortando aquelas tiras em pedaços de mais ou menos três ou quatro centímetros de comprimento, nunca mais de um centímetro de largura ou espessura. Quando você encontrar uns pedaços de gordura branca pode tirar e jogar fora, é justamente essa gordura que dá aquele cheiro forte no prato e que faz com que muitos não apreciem a iguaria. Se você como eu, não tem muita frescura, pode fazer o pré-cozimento com vinagre apenas duas vezes e cortar o bucho com gordura e tudo, na minha opinião fica muito mais autêntico.
Agora sim, vamos cozinhar de verdade. Abra mais uma latinha, se ainda conseguir. Corta a costelinha de porco defumada em cubinhos e bota pra ferver em água quente, só pra tirar o excesso de sal da parada, deixa aí cozinhado. Enquanto isso, picote o toucinho defumado em porções generosas e coloca pra fritar na panela de pressão com um fio de azeite de soja e umas 4 folinhas de louro. Corta a cebola também em cubinhos, quando o toucinho estiver quase no ponto junte a cebola e uns 4 dentes de alho amassado. Deixe as paradas dourarem aí! Escoe a costelinha defumada e pode colocar ela na panela de pressão também. Depois de tudo douradinho, cubra com água e junte três ou quatro tomates picadinhos e sem sementes mais uma batata média cortada em cubinhos bem pequenos. Essa batata vai aí em cubinhos bem pequenos para desmanchar e engrossar o caldo, uma coisa que percebi é que o feijão branco dá um caldo muito ralinho, acrescentando uma batata, que vai se desmanchar toda (ui! que viadagem!), fica um caldinho bem legal!
Agora é que a porca torce o rabo!
Meu! O feijão branco precisa de uns trinta minutos de pressão pra ficar do tipo.
O bucho precisa de mais ou menos uma hora de pressão pra ficar legal e a gente já pré-cozinhou o cara por umas quatro horas mais ou menos!
A costelinha defumada precisa de uns quarenta ou cinqüenta minutos.
Nós cozinheiros, já tomamos mais ou menos umas dezoito latinhas cada um! Como resolver este problema?
Bom, o polaco aqui, primeiro provou a textura do bucho e concluí que precisava de mais meia horinha de pressão, o mesmo que o feijão! Cobri de água o conteúdo da panela de pressão e deixei apitar por uns 20 minutinhos, ou mais ou menos duas latinhas!
Depois foi só juntar o feijão branco, o bucho, um raminho de alecrim, mais meia hora de apito da panela de pressão.
Depois disso dá uma provada na textura do feijão, se precisar deixa a panela de pressão apitar até o feijão ficar macio.
Isto feito, deixe a panela aberta e em fogo baixo, lave um maço de cebolinhas, picote a cebolinha, não precisa ser muito fininho, pode ser tosco mesmo, junte a cebolinha picada e sirva em seguida!
Pronto. Ficou show! Tanto que nem sobrou pro Polaco cozinheiro! Fiquei só no arroz branco!
Serviu umas oito pessoas. Custo total uns trinta reais fora o goró!
Total de cervejas eu não sei, perdi a conta lá pela décima segunda!
Faltam ainda as fotos do prato que a Ju, minha assessora para assuntos fotográficos e de “marketing” ficou de mandar. Assim que ela se recuperar do porrete, lembrar que o Polaco Doido existe e mandar as fotos, atualizo o post e descrevo as estripulias da polacada na festa de aniversário da Angélica.
Por: Polaco Doido

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