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Antonina, Litoral do Paraná, Palestine
Petroleiro aposentado e petista no exílio, usuário dos óculos de pangloss, da gloriosa pomada belladona, da emulsão scott e das pílulas do doutor ross, considero o suflê de chuchu apenas vã tentativa de assar o ar e, erguido em retumbante sucesso físico, descobri que uma batata distraída não passa de um tubérculo desatento. Entre sinos bimbalhantes, pássaros pipilantes, vereadores esotéricos, profetas do passado e áulicos feitos na china, persigo o consenso alegórico e meus dias escorrem em relativo sossego. Comendo minhas goiabinhas regulamentares, busco a tranqüilidade siamesa e quero ser presidente por um dia para assim entender as aflições das camadas menos favorecidas pelas propinas democráticas.

segunda-feira, 22 de setembro de 2014

O Brasil deixa o mapa da fome da ONU mas grande mídia tenta reescrever historia a moda de Stalin para esconder o papel de ex-presidente numa vitória de todos

Copiei de Paulo Moreira Leite

Os brasileiros deveriam promover uma festa nacional porque o país saiu do mapa da fome da ONU. Isso não vai acontecer e o motivo é muito feio.
A vitória histórica do país contra a desnutrição tem um responsável principal, gostem ou não. É o governo Lula e os programas de distribuição de renda que ele iniciou logo depois da posse, em 2003. A fome não foi vencida num ato de vontade mas como projeto de Estado lançado por Lula no discurso de posse, quando anunciou o compromisso — muita gente achou que era só uma demagogia como tantas outras — de garantir que todo brasileiro fizesse três refeições por dia. A ONU informa que ele falou a verdade.
Mas é claro que não convém lembrar esse feito quando faltam duas semanas para a eleição presidencial.
Convém reescrever a história, aplicando uma técnica de manipulação stalinista que ensina que se deve modificar o passado em função das conveniências do presente.
Herbert de Souza, o Betinho, que foi o porta-voz da Campanha contra a Fome e a Miséria, tem sido lembrado e homenageado depois da mudança no mapa da ONU. Adversário da ditadura militar, com um discurso afinado com as necessidade de seu tempo, Betinho merece ser lembrado. Ele teve um grande papel na mobilização daquele período. Foi o rosto da Campanha contra a Fome.
Não custa lembrar, contudo, que até aquela Campanha foi um projeto que saiu de Lula e do Instituto de Cidadania. Com a autoridade de presidente do partido que havia liderando o processo de impeachment de Fernando Collor, em 1992 Lula levou o projeto da campanha contra a fome para Itamar Franco. Recém-empossado, em busca ideias para dar rumo a um governo nascido de uma crise que parecia sem fim, Itamar adorou a ideia. Convidou Lula para assumir a coordenação da campanha. Sem disposição para tanto, Lula indicou o bispo Mauro Morelli, de reconhecido envolvimento em causas sociais. Com dom Morelli, veio Betinho. Junto com os dois, veio um vice-presidente do Banco do Brasil que, autorizado por Itamar e estimulado por Lula, seria o principal responsável pela logística da campanha. Era Henrique Pizzolato, que abriu agências e mobilizou a estrutura capilar da instituição para coletar e distribuir alimentos pelo país inteiro.
A mobilização popular contra a fome, a partir de então, foi um exemplo de cidadania e solidariedade que os brasileiros deram a si próprios. Também foi uma resposta a uma situação de emergência. Cavalgando um projeto de redução do papel do Estado e corte vertical de benefícios sociais, nos anteriores anteriores o governo de Fernando Collor promoveu uma redução drástica nos programas de assistência social. Criada por Getúlio Vargas na década de 30, responsável pelo pouco atendimento aos mais pobres, a LBA foi fechada em clima de moralização do serviço público, com auxílio de escândalos de sempre. Herança de José Sarney, que garantia alguma proteína às famílias submetidas a pior miséria, o programa do leite foi abandonado. Era a fome e a miséria — reconheciam todos.
A campanha da Fome trouxe os resultados positivos mas irregulares que as doações filantrópicas e o trabalho voluntário permitem. Na campanha de 2002, a fome estava lá, como assunto dos brasileiros.
Lula transformou a luta contra a fome numa política de Estado. Criou o Bolsa Família como um programa de massas para 14 milhões de famílias — antes, aonde havia, era uma espécie de amostra-gratis. Também definiu uma política de valorização do salário mínimo, reforçou o crédito para a agricultura familiar e tomou outras medidas na mesma direção. O saldo é que um naco importante da riqueza nacional mudou de lugar e chegou a mesa dos pobres e desnutridos. Não pediu donativos. Distribuiu renda.
Assim a fome foi vencida.
O surrealismo dessa situação é fácil de reconhecer. Depois de apanhar dia após dia por causa das políticas de seu governo contra a fome, a imagem de Lula é apagada da fotografia quando até a ONU reconhece que elas deram certo. Pode?

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